O dia em que o mundo financeiro sofreu um rombo

Que grande surpresa... confesso que quando acordei não estava à espera de receber a notícia da vitória do Brexit. Já nas anteriores análises à banca tinha antecipado a possibilidade de tal poder vir a ocorrer, e do impacto que isso poderia trazer para os mercados, mas ontem já nada fazia esperar uma derrota dos que defendiam a permanência.

Quais são as implicações deste referendo, que poderá ainda tardar cerca de 2 anos (se bem que eu continuo a acreditar na possibilidade de revogarem a decisão) até gerar a efectiva saída do Reino Unido da União Europeia? Antes de mais, o definhamento do próprio Reino Unido. Foi um movimento pouco sensato por parte dos cidadãos do país com mais regalias na União Europeia, e a factura vai pesar. Ainda mais se a Escócia voltar a acordar para o tema da independência, o que é provável. Penaliza também de forma significativa o centro Europeu, com a Alemanha à cabeça, devido à antecipada dificultação das trocas económicas. Em Portugal, sofreremos também de forma directa com o enfraquecimento da Libra, sobretudo a nível imobiliário e no sector do turismo. Haverá ainda um efeito pouco claro sobre os emigrantes portugueses que, dependendo dos acordos que forem negociados, poderão ser forçados a voltar. Nem que mais não seja por se esperar que este destino se torne menos atractivo de um ponto de vista profissional, pela expectável recessão (ou pelo menos abrandamento económico) e desvalorização de divisa.

Além dos efeitos directos, temos todos os gigantescos efeitos indirectos que poderão advir de uma eventual crise financeira. Os movimentos de hoje foram sintomáticos do impacto que poderá gerar-se nos próximos meses, se bem que certamente com maior moderação. Como tinha dito há uns dias, o BCE estava a guardar alguns cartuchos para esta ocasião, e como já toda a gente espera que os bancos centrais intervenham em momentos de dificuldade, poderemos continuar a assistir a algumas intervenções concertadas no sentido de refrear o negativismo financeiro.

Ainda assim, existem vencedores no meio disto tudo. Desde logo, como há meses tenho vindo a defender, o ouro fica ainda mais apetecível. Sempre que existe instabilidade cambial, a "moeda" de referência valoriza. E espera-se que este momento não seja excepção. Outros dos potenciais beneficiados no médio prazo são a China e a Rússia, que estavam cada vez sob maior pressão comercial/política pelos acordos que a UE tentava impor. Com a saída do Reino Unido, temo que se confirme que estamos no caminho para a definitiva desagregação do projecto Europeu. Torna-se assim mais fácil a aplicação do plano de "dividir para conquistar". Política e economicamente falando, claro...


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