O Aumento de Capital do BCP esmiuçado - Vale ou não a pena participar?

Eu tinha prometido que ia tentar não voltar a escrever este ano sobre aumentos de capital, mas o BCP não me ajudou. Depois de a 14 de Maio se ter sabido por um jornal que o BCP iria fazer um aumento de capital, esta notícia é finalmente tornada oficial. É triste que assim seja, mas já todos estamos fartos de saber que o mercado em Portugal é ultra-ineficiente.
Não me vou alongar sobre o que penso destes aumentos de capital, já o fiz por diversas vezes e não existe necessidade de me repetir (ex. aqui).

Ora, ainda não são totalmente conhecidas as condições do aumento de capital, mas sabe-se já que o montante solicitado será superior ao expectável, com um valor de 2250 milhões de euros. Para isso o banco emitirá 34.487.542.355 novas acções (tem actualmente menos de 20 mil milhões)!!
Sabe-se também que as novas acções valerão 6,5 cêntimos, e que serão necessários 0,6 direitos para comprar uma nova acção. A diluição trazida por este aumento de capital é, como se esperava, brutal. Corrijo, a diluição superou, por muito, as minhas piores expectativas! Isso prejudicará significativamente os novos accionistas no que diz respeito à sua actual posição dentro do banco.

Há pelo menos dois pontos importantíssimos ainda por esclarecer:
- Sabendo-se que a colocação de todo o montante está garantida pelo consórcio de bancos gestores do AC, falta saber qual é a contrapartida para esta garantia. É provável que todo o montante não colocado tenha, por exemplo, de ser pago pelo BCP a elevada taxa de juro a este consórcio, ou (menos provável) que seja feito um desconto ainda mais significativo às novas acções a serem adquiridas por este consórcio. Espero que este ponto seja devidamente esclarecido, os accionistas merecem clareza num processo que tem sido tremendamente obscuro.

- Falta saber quando poderão ser vendidas as acções compradas ao novo preço.
Se puderem ser vendidas imediatamente a seguir ao AC, espera-se uma rápida convergência teórica para os 10-12 cêntimos. Duvido que seja tomado esse caminho, esperado-se um período de carência semelhante ao do BES. Se as acções ficarem cativas, a compra no AC torna-se ainda mais incerta. Quem sabe onde estará a cotação daqui a 2 meses? Pode estar nos 20 cêntimos, mas também pode estar abaixo do preço de AC. Esse factor de incerteza condiciona (ou deveria condicionar) significativamente todos os potenciais investidores.

Mais uma consideração importante: Não olhemos para o recente AC do BES como exemplo! Estamos a comparar um banco que fez uma diluição de pouco mais de 10% com um que procederá a uma diluição arrepiante de 19,7 para 53,7 mil milhões de acções. O (estranho) disparo dos direitos durante o período de AC do BES é ainda menos provável neste caso, mas já nada me espanta neste campo...

O que dizer do comportamento de hoje da cotação, que abriu a cair 9% e fechou a subir 13,5%? O panic sell matinal era expectável, a forte recuperação é um pouco mais suspeita. Permitam-me levantar uma teoria que é conspiratória mas nem por isso deixará de assentar num fundo de verdade... Quando temos um aumento de capital no valor de 2250 milhões de euros e quando se quer que esse processo seja um sucesso, não se pode de forma alguma correr o risco de que o comportamento da cotação passe uma ideia de mau negócio aos pequenos accionistas. São esses que vão sustentar a base do aumento de capital. Porque não "investir" por adiantamento uma parte irrelevante desse montante, digamos 250 milhões de euros, para sustentar durante o período de AC a queda das cotações? Não seria de certa forma lógico? Não digo que seja isso que esteja a acontecer, nem que será isso que continuará a acontecer, mas não poderemos certamente excluir essa possibilidade....

Uma nota final para partilhar o que farei pessoalmente durante este processo. Encaro os mercados como uma forma sólida e progressiva de aumentar o meu capital, e fujo sempre que posso das situações de incerteza ou que roçam o ambiente de casino. Se tivesse de me mandar a adivinhar diria que em breve o BCP rondará o tal valor teórico de 10-12 cêntimos que referia acima, mas não descarto a possibilidade de me enganar redondamente nessa opinião e de o banco continuar a subir (sobretudo antes e durante o AC). Espero e desejo sinceramente que este AC seja um massivo sucesso para o banco e para os seus accionistas, pela importância do processo para a economia do país. Mas por muito atraente que a subida possa parecer, o enorme potencial de queda afasta-me totalmente do negócio.
Valerá a pena comprar agora, à espera de uma continuação do movimento ascendente, a partir  de uma perspectiva puramente especulativa ou baseada na "esperança" ou na "certeza"? Para mim não, obrigado. Prefiro manter-me na bancada a assistir e a vê-la continuar a subir (se for o caso) do que entregar o meu dinheiro à sorte da roleta.

Saiba mais sobre Aumentos de Capital no próximo Workshop de Introdução aos Mercados Financeiros, dia 5 de Julho em Lisboa.




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